Raimundo
Silva, revisor numa editora, solteiro, de 50 anos, é um homem apagado, daqueles
funcionários que cumpre as suas tarefas sem dar muito nas vistas. Porém, ao ler
uma obra intitulada História do Cerco de Lisboa, ele tem vontade de fazer
uma alteração: introduzir um "não". Essa simples palavra iria
implicar uma enorme mudança na história pois significaria que os Cruzados não
teriam ajudado Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos mouros, em 1147.
Descoberto, Silva mete-se em apuros na editora. No processo, o revisor
apaixona-se pela sua supervisora, Maria Sara, ao mesmo tempo que pensa como há
de recontar a história do cerco num novo livro. A conquista amorosa
desenrola-se a par da conquista dos portugueses aos mouros.
Esta é, em
traços largos, a História do Cerco de Lisboa, contada por José Saramago no
livro de 1989, e que a dupla espanhola José Gabriel Antuñano (dramaturgia) e
Ignacio García (encenação) transformou em espetáculo numa megaprodução de
quatro companhias de teatro: ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve, Companhia
de Teatro de Almada, Companhia de Teatro de Braga e Teatro dos Aloés.
No palco,
além das personagens da história, está também o próprio José Saramago, o
narrador que no romance se revela em alguns momentos mas que aqui tem
protagonismo: não só lhe ouvimos a voz inconfundível (são excertos de
entrevistas) como ganha um corpo e uma presença constante com o ator Jorge
Silva. "Interessou-me muito a sobreposição de planos - e esta é uma
característica de muitos dos romances de Saramago", explica Ignacio
García. "É como um conjuntos de matrioskas, as bonecas russas:
Saramago escreve um romance sobre duas personagens, das quais uma é um
romancista que está a escrever um livro e que tem as suas próprias personagens,
Há um jogo de reflexos, histórias que se desenrolam em paralelo, em diferentes
níveis, e que tanto no livro como no espetáculo vão lutando para captar a
atenção do leitor/ espectador."
Espetáculo estreia hoje, dia 5 de julho, no Teatro Municipal Joaquim Benite, no Festival de Almada.
* Via Diário de Notícias
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